Convergência e luta <br>por uma alternativa política
Romper com a política de direita e fazer emergir uma alternativa política, patriótica e de esquerda, constitui um imperativo nacional e patriótico. Imperativo que corresponde a uma legítima aspiração dos trabalhadores e do povo, de todos os democratas e patriotas que não aceitam o rumo de afundamento a que a política de direita vem condenando o País.
O PCP assumirá todas as suas responsabilidades perante o povo e o País
Como o PCP tem insistido, uma política e um governo patrióticos e de esquerda são não só necessários como possíveis. É na sua concretização que o PCP está convictamente empenhado. Assim se amplie, a par da intensificação da luta, a convergência de forças sociais e políticas, e do vasto conjunto de democratas e patriotas sinceramente empenhados em os concretizar.
A construção da alternativa é inseparável da ruptura com a política de direita e da ampliação da base social e política que dê suporte a uma política patriótica e de esquerda. Dois elementos, duas condições indissociáveis cuja apreensão é crucial para romper com o rotativismo dos promotores da continuada política que há 38 anos arruína o País e a vida dos portugueses. Um processo que, não isento de complexidades, exige na sua construção, sem prejuízo do respeito por naturais diferenças, a remoção de preconceitos, a rejeição de ambições hegemónicas, a recusa de marginalizações, a clareza de propósitos.
É no terreno dos conteúdos e opções da política que se propõe que radica a prova sobre as reais intenções quanto a uma verdadeira alternativa. É nesse terreno que se afere da linha que separa o sério compromisso para a construção de uma efectiva convergência, dos oportunistas apelos à unidade dirigidos, não a esse objectivo, mas a aplanar o caminho para justificar renovados comprometimentos com a política de direita. Fraco sentido de convergência o daqueles que proclamando-a, o fazem não para ela contribuírem, mas para arquitectarem fórmulas visando o isolamento do PCP e a redução da sua influência.
Aos que esgrimem, em abstracto, que a convergência significa compromisso não os desdizemos. O que se acrescenta é que eles não são separáveis do ponto de onde se parte e daquele a que se pretende chegar. Aos que proclamam que se devem respeitar diferentes posicionamentos, acompanhamos-los, mas sublinhando que isso não pode ser sinónimo de negação de propósitos e objectivos.
O objectivo da convergência não é separável dos conteúdos e da natureza que a motiva. Quem a esta questão crucial responde arremessando com inventadas dificuldades de diálogo, mais não pretende do que esconder posicionamentos sobre as matérias colocadas em diálogo. Seguramente, pela força de um hábito enraizado em quase quatro décadas de acordos à direita, para alguns tudo se resume a encontrar moedas de troca, engenhosas contrapartidas e encenadas cedências para justificar esses mesmo acordos que, formal ou informalmente, unem na mesma política PS e PSD, acompanhados ou não pelo CDS.
Assumir responsabilidades
A concretização da alternativa exige que clara e inequivocamente se estabeleça o trajecto que a viabilize, ou seja, a assumida opção de ruptura com a política de direita em todos os seus eixos estruturantes. A questão não está em encenar processos de diálogo sobre inteligentes ou habilidosas formas de concretizar a política de direita mas sim, de forma clara, cada um dizer como pretende romper com ela. É essa a fronteira que separa alternativa e alternância.
Antecipando estereotipadas acusações, se reafirma que o PCP não tem a pretensão de esgotar, em si, a unidade de esquerda nem de hegemonizar processos de convergência. Mas tem o dever de afirmar que eles não se constroem sem ou contra o PCP e, bem menos, ambicionando reduzi-lo a adorno de velhos compromissos com a política de direita. Haverá quem, mais determinado pelo acesso ao poder do que vinculado a uma política alternativa, a isso se disponha.
O PCP pesará e contribuirá para a construção de uma alternativa política, não para servir de plataforma de passagem para uso de forças políticas e de soluções que não se afastam da política de direita. Pelo que as teses sobre um alegado bloqueio à esquerda que empurraria o PS para a direita, a estafada ideia de que o PCP não quer sair do «conforto» do «protesto» ou de auto-exclusão de soluções governativas, serão muito úteis para justificar genéticos comprometimentos com o grande capital, mas não têm qualquer colagem com a «mudança» que alguns apregoam para prosseguirem soluções assentes na alternância. Os que acenam com uma desejada «casa comum» da esquerda fazem-no para iludir a política comum de direita que há décadas coabitam.
O PCP assumirá todas as suas responsabilidades perante o povo e o País. Seja a de agir para ampliar a convergência, seja para prosseguir a luta contra a política de direita, seja para assumir as responsabilidades de governar. Sempre no pressuposto de uma simples e decisiva premissa: a do conteúdo e opções de uma política patriótica e de esquerda e não a das fórmulas de envolvimento e comprometimento em soluções governativas em contradição com aquelas.